DATA 26/08/2020
2A EDUARDO
HABILIDADES/OBJETIVO: Discutir, analisar e sistematizar acerca das noções de
sujeito e objeto; qualidades objetivas; conhecimento e subjetividade; ceticismo
e dogmatismo, do problema da verdade.
ATIVIDADE: 01) O QUE FOI A FILOSOFIA MORAL DE KANT ?
LINK DE VIDEO AULA: https://www.youtube.com/watch?v=2-HlwkOBueE
2B NARA
Atividades e Orientação:
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Coloque
a data e o assunto da aula em seu caderno,
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Leia
o texto com bastante atenção,
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Faça
o resumo deste em seu caderno.
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Fenómeno e intuição empírica: alguma
confusão em Kant
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Apesar do seu brilhantismo no raciocínio, Kant desceu ao magma de alguma confusão
de ideias no que respeita à definição de fenómeno e de intuição. O filósofo
alemão definiu assim fenómeno:
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«O objecto indeterminado de uma intuição empírica chama-se fenómeno».
(Kant, Crítica da Razão Pura, Fundação Calouste Gulbenkian,
pag. 61).
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É óbvio que Kant distingue entre fenómeno - por exemplo, cadeira - e
intuição do fenómeno - ver ou tocar a cadeira, neste exemplo. Mas o que
constitui o fenómeno? As intuições empíricas e, essencialmente, as
intuições puras: a figura e a extensão. E alguns conceitos a
priori. O fenómeno, como por exemplo, bicicleta, cão ou nuvem nada é em si
mesmo: é apenas uma figura sem cor, nem som, nem cheiro, nem matéria,
inscrita num espaço que é irreal, intuição a priori. Kant é um
idealista ontológico: os objectos materiais não existem fora do espírito
humano, são complexos de sensações e intuições tridimensionais. Não há, por
exemplo, cavalo-númeno e cavalo-fenómeno, como pensa a generalidade dos
estudiosos de Kant. O cavalo é apenas representação de algo incognoscível. Kant
escreveu:
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«Assim, quando separo da representação de um corpo o que o entendimento
pensa dele, como seja substância, força, divisibilidade, etc., e igualmente o
que pertence à sensibilidade como seja a impenetrabilidade, dureza, cor, etc,
algo me resta ainda dessa intuição empírica: a extensão e a figura. Estas
pertencem à intuiçao pura, que se verifica a priori no
espírito, mesmo independente de um objecto real dos sentidos ou da sensação,
como simples forma da sensibilidade.»(Kant, Crítica da Razão Pura, Fundação
Calouste Gulbenkian, pag. 61).
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Ora este texto desmonta o objecto real dos sentidos ou fenómeno
mostrando que não passa de um complexo de intuições formais (figura, espaço)
e de conceitos A cor, a dureza, de uma bicicleta não
pertencem à bicicleta: são sensações, intuições empíricas, modos ilusórios de
percepcionar esse veículo que é fenómeno. O carácter unitário da biclicleta
como aglomerado de peças metálicas é um conceito do entendimento, é a categoria
de substância e acidente, não está na bicicleta. E o problema
coloca-se: ao vermos uma bicicleta que está fora do nosso corpo físico mas
dentro da nossa mente que o circunda e constitui o espaço, estamos a
ter um conjunto de intuição empíricas e sensações (visão da cor,
sensação da dureza do metal ou do selim, etc) de um fenómeno que se
reduz a intuições empíricas geométricas (as linhas da bicicleta),
a uma matéria indeterminada (algo que não tem cor, nem peso,
nem cheiro, nem ductilidade) e a conceitos (substância
única e divisível em partes).
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Assim, a noção de intuição empirica funciona ambiguamente em Kant: é
a matéria do fenómeno («Dou o nome de matéria ao que no
fenómeno corresponde à sensação» diz Kant; mas uma matéria absolutamente
abstracta, como a hylé de Aristóteles, pois a cor, o cheiro, o som, a sensação
de dureza são meras sensações, aparência), o objectivamente «real para nós»
e é a percepção da matéria desse fenómeno, percepção esta que já inclui
cor, som, cheiro, grau de dureza, etc. Note-se ainda que, seguindo
a teoria das qualidades primárias e secundárias de Descartes, Kant
estabelece duas modalidades de intuição empírica enquanto percepção,
distinguindo sensação (subjectiva, ilusória) de intuição (objectiva):
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«O sabor agradável de um vinho não pertence às propriedades
objectivas desse vinho, portanto de um objecto mesmo considerado como
fenómeno, mas à natureza especial do sentido do sujeito que o saboreia. As
cores não são propriedade dos corpos, à intuição dos quais se reportam, mas
simplesmente modificações do sentido da vista que é afectada pela luz de uma
certa maneira. O espaço pelo contrário, como condição de objectos
exteriores, pertence necessariamente ao fenómeno ou à intuição do
fenómeno». (Kant, Crítica da Razão Pura, Fundação Calouste
Gulbenkian, pag. 69, nota de rodapé; o destaque a negrito é de minha autoria).
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Neste caso, o sabor e a cor de um vinho seriam a intuição subjectiva e o
vinho a intuição objectiva e o fenómeno. Mas o que é o vinho sem cor, nem
sabor?
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Em suma, a contradição de Kant reside no facto de expulsar do
fenómeno para o campo das sensações (intuições do fenómeno) e para o campo dos
conceitos aquilo que realmente o caracteriza: a cor, o sabor, a
dureza, a matéria concreta de que é feito (no caso de árvore: madeira e
folhagem), tornando o fenómeno uma figura fantasmagórica, um esqueleto sem
carne, pura forma num dado tempo.
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