DATA 05/11/2020
05 DE NOVEMBRO
LEIA OS TEXTOS A SEGUIR E RESPONDA ÀS QUESTÕES: Não precisa copiá-los, apenas anote o tema.
ASSISTA AOS VÍDEOS TEATRAIS SOBRE INÊS DE CASTRO
https://www.youtube.com/watch?v=IiPzd77b2Io&ab_channel=DaianeEmpinotti
https://www.youtube.com/watch?v=D9NGwiE9_Pg&t=5s&ab_channel=DaianeEmpinotti
O episódio de Inês de Castro encontra-se no canto III de “Os
Lusíadas”, de Camões, desenrola-se entre as estrofes 118 e 135 e pertence ao
Plano Narrativo da História de Portugal. Concentra-se no conflito entre o amor
e os poderes perversos do mundo. É Vasco da Gama (narrador) quem conta ao rei
de Melinde (narratário) este trágico episódio que começa com o regresso
vitorioso de D. Afonso IV. O Bravo, da Batalha do Salado. Antes ainda de se
centrar em Inês, o narrador começa por chamar a nossa atenção, na estrofe 119,
para o cruel amor, que considera como principal culpado da morte de Inês, uma
espanhola amante de D. Pedro. O amor é descrito como feroz e tirano, desejoso
de sangue humano. Na estrofe 120, o narrador centra a sua atenção em Inês, que
descreve como uma jovem linda e alegre que passeava despreocupadamente pelos
campos do Mondego (Coimbra) onde costumava encontrar-se com o príncipe D.
Pedro. A Natureza surge como amiga e confidente de Inês, testemunha do amor entre
os dois. Alertado pelo murmurar do povo que não via com bons olhos a recusa de
D. Pedro em casar-se, o rei, D. Afonso IV, temendo ter o trono ameaçado por
netos descendentes de espanhóis, acaba por, contra a sua vontade, ordenar a
morte de Inês. O rei é claramente desculpabilizado por Camões que atribui
culpas ora ao amor, ora ao destino, ora ao povo. Na estrofe 124, os carrascos
levam Inês perante o rei, que, apesar de comovido, é, mais uma vez, convencido
pela vontade do povo. Entre as estrofes 126 e 129, Inês desenvolve o seu
discurso, suplicando ao rei para que lhe poupe a vida e argumenta relembrando-o
de que até os animais mais ferozes têm sentimentos e de que ela, como inocente
(pois o seu único crime foi o amor), merece pelo menos a oportunidade de criar
os seus filhos, ainda que fosse condenada a um desterro em terras longínquas
apenas habitadas por animais selvagens. Chama ainda a atenção do rei para os
seus filhos, que, afinal, são netos dele. O rei comove-se com as palavras de
Inês, mas o seu destino estava traçado e o rei acaba por seguir a vontade cruel
do povo. Na estrofe 132, assistimos à morte de Inês levada a cabo pelos
carrascos que a matam sem piedade com as suas espadas. A Natureza, outrora
amiga e confidente de Inês, chora a sua morte. As lágrimas das ninfas do
Mondego transformam-se na bela fonte que ainda hoje podemos visitar na Quinta
das Lágrimas em Coimbra - a fonte dos amores. Esse episódio é um dos mais
admirados de “Os Lusíadas” devido à pungência da história e ao encanto lírico
de que Camões cercou a figura de Inês, a quem atribui longo e eloquente
discurso, impondo-a como um dos grandes símbolos femininos da literatura e não
só da literatura de língua portuguesa.
Episódio de Dona Inês de Castro (Os Lusíadas, Canto III,
118 a 135)
118
Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.
119
Tu, só tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres,
áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano
120
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo
doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos
do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
121
Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fernosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em
pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.
122
De outras belas
senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu,
puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave
te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sisudo, que respeita
O murmurar do povo e
a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,
123
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho
que tem preso,
Crendo com sangue só
da morte indigna
Matar do firme amor o
fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse
alevantada
Contra hûa fraca dama delicada?
124
Traziam-na os
horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com
falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a
própria morte a magoava,
125
Para o céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as
mãos lhe estava atando
Um dos duros
ministros rigorosos);
E depois, nos meninos atentando,
Que tão queridos
tinha e tão mimosos,
Cuja orfandade como
mãe temia,
Para o avô cruel assim dizia:
126
(Se já nas brutas
feras, cuja mente
Natura fez cruel de
nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas
tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso senti mento
Como co a mãe de Nino já mostraram,
E cos irmãos que Roma
edifi caram:
127
ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar
hûa donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.
128 E se, vencendo a Maura resistência,
A morte sabes dar com
fogo e ferro,
Sabe também dar vida,
com clemência,
A quem peja perdê-la
não fez erro.
Mas, se to assim merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cíti a fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.
129
Põe-me onde se use
toda a feridade,
Entre leões e ti gres, e verei
Se neles achar posso
a piedade
Que entre peitos
humanos não achei.
Ali, co amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.)
130
Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o perti naz povo e seu desti no
(Que desta sorte o
quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal
feito ali apregoam.
Contra hûa dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e
cavaleiros?
131
Qual contra a linda moça Polycena,
Consolação extrema da
mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos,
com que o ar serena
(Bem como paciente e
mansa ovelha),
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifí cio
se oferece:
132
Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor
matou de amores
Aquele que despois a
fez Rainha,
As espadas banhando e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, fervidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.
133
Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar
aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia !
Vós, ó côncavos
vales, que pudestes
A voz extrema ouvir
da boca fria,
O nome do seu Pedro,
que lhe ouvistes,
Por muito grande
espaço repeti stes.
134
Assim como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos
lacivas maltratada
Da menina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida.
135
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória
eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas
transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte
rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amor.
1.“Os Lusíadas”, obra de Camões, exemplifica o gênero épico
na poesia portuguesa, nesse gênero, a temática, ou assunto principal, se
modifica ao longo da narrativa. Essa epopeia também oferece momentos em que o
lirismo se expande, humanizando os versos. No episódio de Inês de Castro, a
segunda estrofe é considerada o ponto alto do lirismo camoniano inserido em sua
narrativa épica. Dessa forma, qual é a temática desse trecho?
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